A revista Artes Plásticas publicada pela primeira vez em Outubro de 1973, a custar 25$00, é uma revista direccionada, claro está, para as Artes (Visuais ou Plásticas) através da divulgação de projectos, correntes artísticas e seus autores, e sobretudo pelo acompanhamento da arte portuguesa no contexto internacional, promove a discusão da teoria crítica da arte. Propõe-se como meio para a troca de opiniões, um contraponto teórico e prático. Tendo sido na época, uma importante fonte divigulgadora da vanguarda artística, tanto pela importação quanto pela exportação, não só destacando o trabalho de artistas portugueses, como também fazendo chegar ao público português algumas promessas internacionais. Muitos artistas, ainda em início de carreira, então divulgados, são referências actuais.
Esta revista tem um projecto gráfico com vida própria, não por ser desligado dos restantes critérios editoriais, mas fazendo-se notar por ser pensado ao mesmo nível de qualquer artigo ou tema, e existindo em conformidade à compreensão geral do mesmo. A cada número apresenta um uso diferente de tipos de letra, por vezes pouco convencionais ou inadequados, quando procura ilustrar determinado tema ou apresentá-lo de forma distintiva dos restantes. Usa tipos não serifados para texto, o que era invulgar para a época. A diversidade tipográfica nota-se na mancha de texto, ao nível dos títulos, no corpo e a variada colocação na grelha.
Quanto à grelha e sua flexibilidade, permite alguma manobra em termos de ritmo. Pelas suas sub-divisões possibilita a variação entre uma e três colunas, e o aumento ou diminuição do corpo de letra em função desta opção. Apesar de nem sempre conseguir uma mancha de texto agradável, percebe-se a vontade de ter um esquema menos rígido que permita adaptar uma paginação ao género de texto, seja ensaio, reportagem, entrevista, portfolio, notícias breves, etc., conseguindo uma sequência de páginas algo imprevista. O conteúdo contamina por completo todo o grafismo, ou por outras palavras, a forma resultante deve muito às fotografias, aos desenhos, às reproduções de obras de arte, mas também ao tratamento tipográfico e ao cut-up das montagens. Daí que, o interesse formal, visualmente rico, viva essencialmente das imagens.
As suas páginas são geralmente de aspecto condensado, mais acentuado pelos aparos feitos aos volumes encadernados da Hemeroteca de Lisboa, onde foram fotografadas as imagens. Este desenho de página vem no seguimento daqueles jornais cujo papel era aproveitado ao máximo milímetro – em que as colunas de texto eram coladas entre si, aproveitando o contorno da caixa como solução-ganho ao espaço branco necessário entre colunas – defendendo o equilíbrio da página com a existência de espaços brancos pelo meio a fazer composição.
Este grafismo exibe já uma identidade muito própria direccionada para a prática do design gráfico. A forma como lida com a informação, cortando palavras, títulos, fragmentando, desmultiplicando, denuncia uma abertura ao design enquanto descodificador de mensagens, no papel activo do leitor, mostrando ter conhecimentos de como chamar a atenção dos leitores para o artigo. Um facto bastante curioso: estamos em 1974, data em que é publicado um artigo chamado A arte, o sentido e o design, por Lima de Freitas. Um artigo que faz precisamente a correspondência entre as duas disciplinas – que sempre existiu, uma vez que o design era prática habitual dos artistas, mas na altura em que o Design começa a ser leccionado de forma autónoma nas Belas Artes, é nomeado também neste artigo como disciplina independente.
O logotipo, de que não sabemos a autoria, é uma marca forte e temporal, como cabeçalho da revista. Surge na primeira capa (com trabalho de Arnulf Rainer) e ao longo dos vários números editados, de várias maneiras. Inicialmente maior, e número após número viria a tornar-se mais subtil, aparecendo também a combinar com a imagem/obra que é primordial na capa. Diminuído, inserido como pequeno apontamento, conforme vai dando mais jeito, mas sem perder a identificação.
As capas, bem conseguidas, são habitualmente imagens duotone (em alguns casos passa a três ou apenas uma cor de impressão) e tem o valor de um tributo, nem sempre segundo a lógica do destaque, em que o tema principal daquele número tem uma chamada de capa, mas a capa é um cartão de visita encerrado em si, podendo o autor não ser apresentado no interior da revista.
O número 7/8 da revista é marcado por uma viragem da linguagem visual, por novas opções da nova equipa que liderou o projecto gráfico. Esta mudança resulta num grafismo muito menos interessante, severamente afectado pela evolução técnica e tecnológica.
Director · Egídio Álvaro
Colaboradores · Rocha de Sousa, Lima de Freitas, Fernando Lanhas, Luigi Carlucciu, António Areal, Alfredo Queiroz Ribeiro, Rui Mário Gonçalves, Giovanni Giappolo, Sallete Tavares, Eurico Gonçalves, Mirella Bandini, Oystn Hjort, João Dixo, Rugiero Bianchi, Patrick Le Nouen, Ângelo de Sousa, Jaime Ferreira, Anne Troen Che, Yann Pavie, Jean Luc Parant
Direcção Gráfica · Gabinete JB, SARL
Execusão Gráfica · Simão Guimarães, Filhos, Lda (do nº1 ao 6); Tipografia Arcanjo Ribeiro (nº 7/8
Fotografia · Ursa Zangger, P. Bressano, Hannes Flury, André Morain, António Sousa, Clareboudt, Raymond Vennier, Tahara, Eduardo Sá Carneiro, João Lanhas
Distribuição · Livraria Bertrand
Peridiocidade · mensal
Tiragem não referida
Patrocinada pelo Banco Pinto de Magalhães